
Poemas
Céu Azul
Esparrama um movimento plácido
Como se a carne, largada ainda pulsando,
Não tivesse sido devorada por si.
E fitando o olhar assassino, muito doce,
A presa, em agonia,
Na exuberância da sua morte em alegria,
Sabe que é o bem que mata.
Céu azul em travessia!
Fêmeo Selvagem
Sim! Eu amo como os infames!
A alma do amor eu devoro com meu afeto,
Destrincho, violo de modo simétrico,
Até que eu possa extasiar-me em gargalhada.
E ainda tenho a audácia de querer mais!
Meu movimento sutil, quase que delicado,
É milagre que sustenta meu corpo unificado,
Para que eu não me parta em explosões colossais.
Entregue... Sou consorte do perigo
Inteira... Sou um grito vertido
A um querer atemporal
Sim! Eu amo de modo tão violento,
Que à vida dou um suspiro lento,
E, simplesmente, deixo!
Carne
Pela carne o ser humano entrega a alma:
Vende a alma,
Aluga a alma,
Finge ter alma,
Ou,
Simplesmente e,
Mais absurdamente,
Ama.
Das Máscaras
A vela acesa diz que a luz apagou,
Mas a vela em chama não é uma luz acesa?
E por que haveria de importar o que sombreou,
Se toda a lógica se mantém no - existir - da clareza?
O que tu não vês na falta
Pode ser o ar,invisível, que necessitas para respirar.
É no teu olho que mora a felicidade alta
Todo resto é só a vida a se precipitar...
Ferroada
Quero que morras a cada instante!
Delicadeza tão dolorida...
Inflamação de flores vermelhas.
Quero, em cada passo dado, a incapacidade das pernas,
O atrito da mente sem compreensão,
Vagando no terror contente de não conseguir sair do lugar.
Quero que morras tão agigantadamente a miúde,
Que teu coração se estraçalhe dentro do peito,
Fazendo sentires meu amor como mil ferroadas na alma.
Bolhas de Sabão
Fala,
Parece nada
E arranca tudo.
Entra,
Não pediu licença
E fica bem à vontade.
Mexe, remexe, vasculha,
Como se tudo fosse seu.
Senta dentro de mim.
Como criança no chão da sala,
Brinca!
E soltando risadas bem naturais,
Faz bolhas de sabão,
Do meu sangue.